terça-feira, 1 de julho de 2014

Um pouco sobre escolhas, amigas e aceitação.


  Então chegamos do shopping, eu e minhas amigas Lila e Malu, sempre nos demos muito bem e fomos nossas companheiras, sabíamos que poderíamos contar uma com as outras e isso era o que reafirmava nosso laço de amizade com o passar dos anos. É importante que tenhamos sempre alguém com quem contar no final das contas, porque nem tudo irá dar certo todos os dias, as nuvens nem sempre irão sumir, a tempestade pode durar dias, semanas ou meses e quem será seu ombro amigo nos tempos difíceis? Assim como o guarda chuva serve para nos proteger, as amizades servem para nos abrigar. 
   Ao abrir o portão da minha casa algo levantou-se rápido do lado da calçada da minha casa, era Nana, fazia muito tempo que não falávamos com ela, a última vez nos envolvemos em uma discussão tentando explicar que ela estava se envolvendo com muitos rapazes e isso denegria a imagem dela. Nana tem uma personalidade particular, quase nunca escutava o que dizíamos e sempre se arrependia depois de ouvir aquela frase chata, porém necessária: "Eu te avisei."
   Nana estava com o rosto vermelho e os olhos cheios de lágrimas. Ao vê-la fiquei impressionada, a única coisa que falei naquele momento foi: "Nana... posso te ajudar?". É engraçado como as coisas acontecem conosco e com os outros, eu costumo ser uma pessoa paciente e amiga, aconselhando e sempre respeitando as decisões das minhas amigas, às vezes até perco meu tempo falando aquilo que já falei na intenção de que dessa vez elas irão me ouvir. Não que eu seja inconveniente ou metida mas, é válido que elas saibam que me importo com o melhor que iremos ter, qualquer que seja, digo iremos porque eu nunca serei só eu, existem pessoas que forma quem eu sou, ainda que eu tenha minha vida, meu caráter e minha personalidade, as pessoas ao meu redor ajudam a me tornar uma pessoa mais abençoada. E por me sentir assim procuro colorir a vida das pessoas ao meu redor, com minhas cores preferidas, colorindo e escondendo cada espaço preto e branco que deixa vazio, sem sentido, da mesma forma que elas colorem a minha vida tornando-me mais viva.
   Entramos em casa e Nana não queria falar nada, ela chorava aquele choro automático que você não controla e as lágrimas só escorrem pelo seu rosto como uma estrada reta sem curvas e sem ruas paralelas, as lágrimas dela pareciam já saberem o caminho a seguir. Tentamos sem sucesso saber o que causava tanta dor e ela apenas olhava pra gente balançava a cabeça e chorava. Então eu e Malu decidimos contar a ela nosso dia e a falta que ela estava fazendo nas nossas saidinhas que ao passar do tempo estavam ficando cada vez mais difícil de serem feitas. Fazem 10 anos de amizade e já não temos 14 anos, somos mulheres e temos nossas vidas, trabalhos e responsabilidades.
   Ao terminar de contá-la nossas aventuras e  bagunças - porque temos mais de 23 anos mas ainda assim gostamos de nos sentir um pouco infantis as vezes, sem regras de etiquetas e postura - foi quando Nana riu, limpou a lágrimas e respirou fundo, como quem quer começar novamente, deu uma pausa longa e então começou a falar: "Eu falhei... falhei em pensar que aproveitar o agora era mais importante do que pensar no futuro. Foi difícil pra mim durante minha caminhada ter que aceitar isso, vocês sabem que não sou fácil em aceitar opiniões..." - neste momento como um coral, eu, Malu e Lila dissemos: "ANRAM" demos uma risada sem graça e Nana riu conosco mas logo parou e continuou a falar: "Eu sei que não sou fácil mas... não quero mais quebrar a cara para aprender com meus erros. Eu não aguento mais namorar com homens que não dão valor ao meu sentimento, não aguento mais procurar e não encontrar uma pessoa que pelo menos me respeite. Eu quase não dei um tempo pra mim, sempre estava com alguém, buscando preencher um vazio que nunca poderia ser preenchido por homens. Cada um que namorei arrancou um pedaço de mim, arrancaram esperança, paz, fé, força, coragem, motivação, ânimo, autoestima. É verdade que nunca dei ouvidos aos conselhos de vocês mas, agora eu quero voltar ao começo de tudo. Quero poder reiniciar cada sonho e chances que perdi por não querer esperar o tempo certo, o momento oportuno de tomar certas atitudes. Eu esqueci de vocês, esqueci de mim, esqueci de tudo e quero que vocês me ajudem a lembrar de quem eu sou e para onde eu vou."
   Quando Nana terminou eu olhei pra ela e comecei a cantar baixinho:
"Hoje eu só quero que o dia termine bem,  hoje eu só quero que o dia termine muito bem..." ♫, Malu e Lila começaram a cantar junto comigo e logo estávamos cantando e dançando, do mesmo jeito que fazíamos quando tínhamos 15 anos, no início de tudo, quando demos a partida em direção a felicidade, juntas. Paramos e nos olhamos e então entendemos com aquele simples olhar que estaremos juntas até o fim, se é que ele existe. 


"Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon. Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém."